TEMPO, AUTOGESTÃO E OS DESAFIOS NOSSOS DE TODOS OS DIAS

Zarhi El Malek no mostra como a autogestão pode ser a resposta para a falta tempo e a conquista de mais qualidade de vida, saúde e propósito.

Este conteúdo está disponível nas versões texto e áudio.

Quantas vezes essa semana você falou ou pensou:

• Não tenho tempo!

• Desculpe a demora em te responder, é que não parei.

• Nossa, a semana mal começou e já acabou.

• Com certeza, o tempo está passando mais rápido agora!

Essas são frases comuns e cada vez mais presentes em qualquer conversa no trabalho, na família, com os amigos… elas são parte da atual síndrome da falta de tempo de todos nós! Hoje escrevo para te convidar a considerar que, enquanto olharmos para a gestão do tempo como parte separada da gestão de nós mesmos, continuaremos a ter a falsa ilusão de quê, o que nos falta, é o tempo.

CONCORDE VOCÊ OU NÃO

Enquanto lutamos contra circunstâncias que insistem em fazer da nossa vida uma corrida de obstáculos, uma esmagadora parte de nós esquece que temos enfrentado um outro inimigo comum: a nossa capacidade de autogestão.

Se tempo é recurso fixo e só temos 24 horas por dia, a forma como vamos administrá-lo é fundamental também para a nossa saúde, seja ela física, emocional ou mental.

É importante ter em mente que a falta de tempo por si só já é um desafio enorme. Assim sendo, em momentos mais atribulados ou de maior demanda, dar conta requer equilíbrio, foco, capacidade de organização e planejamento eficientes.

Por outro lado, essa sensação de não ter tempo, especialmente quando a demanda é realmente grande, também mascara nossa capacidade de administrar nossas necessidades e prioridades. Quando aprendemos a observar melhor a nós mesmos e olhamos com mais apuro ao redor, se torna visível como nossa falta de tempo vem junto com um rolo compressor de justificativas plausíveis para a nossa falta de autogestão.

Para entender melhor, considere o seguinte:

Está na AUTOGESTÃO a nossa CAPACIDADE DE ADMINISTRAR A NÓS MESMOS, de definir o que é PRIORIDADE e como vamos nos ORGANIZAR para EXECUTAR e ALCANÇAR aquilo que almejamos. ISSO NÃO É SOBRE TEMPO, É SOBRE PROPÓSITO. Por isso mesmo, tempo é moeda, recurso valioso e escasso. Ou seja, se não soubermos administrá-lo, ao vivermos nessa constante busca pelo que desejamos, sem entender nossos gargalos, acabamos nos tornando escravos dele.

A EVOLUÇÃO DA FALTA DE TEMPO

Era 1982, 43 anos atrás, quando o Dr. Larry Dossey lançou o livro “Space, Time & Medicine”, e nele argumentava sobre como o estresse e a constante sensação de que o tempo está escapando, correndo entre nossos dedos, afeta nossa saúde. Ele é quem destaca o termo “Síndrome da Falta de Tempo”, também chamada de “Doença do Tempo”.

Se no passado essa síndrome era mais pontual, hoje tornou-se epidêmica! Tanto, que pode-se dizer que a “Doença do Tempo” ganhou novo status nos últimos 20 anos, expandindo, por exemplo, em ansiedade, depressão e bournot.

E, claro, em um contexto mais recente há um importante papel da tecnologia e redes sociais nesse contexto. Mas esse declive comportamental é antigo. Tanto que, agora, em 2025, continuamos a ter dificuldades em entender que a nossa gestão de tempo é algo maior que um cronograma de horas, minutos, segundos versus tarefas e compromissos.

Pense comigo:

Quem de nós já não sentiu um desânimo frustrante diante de uma interminável lista de coisas para fazer? E aquela sensação de sobrecarga profissional? Mas, sem nem poder pensar em parar devido as contas a pagar e o medo de perder o que foi conquistado com muito esforço.

Coisas comuns, presentes na rotina diária, quando mal administradas vão semeando culpa, frustração, esgotamento, irritabilidade… e é aí que a autogestão entra em cena para mudar essa realidade.

QUAL O IMPACTO DISSO SOBRE SUA SAÚDE MENTAL, EMOCIONAL E SOBRE SUA RELAÇÃO FAMILIAR?

Estudos psicológicos vão falar sobre a importância de recuperar o equilíbrio e a paz interna, reconhecendo limites, regulando emoções e cuidando da saúde mental. Estudos sociais vão apontar como o estilo de vida moderno, a cultura da pressa e da produtividade constante moldam nossos ritmos e adoecem nossa rotina. Estudos comportamentais mostram como repetimos padrões automáticos que nos mantêm presos em ciclos de cobrança e fuga, mesmo sem perceber.
E os estudos filosóficos, nos convidam a refletir sobre como temos usado o tempo que temos — e se estamos, de fato, vivendo ou apenas sobrevivendo.

No cruzamento de tudo isso, está a autogestão: não como mais uma tarefa, mas como um ato de consciência, escolha e respeito por si mesmo.

Isso é tão relevante que, desde 2016, o relatório do Fórum Econômico Mundial, quando cita as tendências sobre “O Futuro do Trabalho” tem incluído a autogestão como uma das 10 mais importantes habilidades do futuro.

AUTOGESTÃO É A MELHOR FORMA DE AUTOCUIDADO PARA SUA SAÚDE FÍSICA, MENTAL E EMOCIONAL.

Dar conta de trabalho, relacionamentos, cobranças, responsabilidades e até do autocuidado, não é tarefa fácil para ninguém. Na vida, a corrida pelo tempo se tornou um lugar onde é fácil entrar, e capaz de nos aprisionar em um ciclo vicioso de demanda e busca por mais dele.

Minha pergunta para você agora é simples:

Como vai sua vida?

Como você tem se sentido em relação a tudo que citei até aqui?

Há uma enxurrada de conteúdo sobre o tema à sua disposição. Fórmulas, cursos, mentorias, livros e muito mais. Contudo, preciso ser muito sincera com você:

Não dá para se tornar um bom gestor de si mesmo sem parar para olhar pra dentro e entender melhor o que você sente, onde está, suas possibilidades e dificuldades reais. Talvez a palavra autoconhecimento tenha sido tão repetida que parece não ter mais tanta profundidade, mas sem autoconhecimento, a autogestão pode se tornar um fardo.

SEJA PRÁTICO

Perguntas simples te ajudarão a dar os primeiros passos para resgatar seu tempo. Entretanto, você precisará estar disposto a se esforçar.

Pergunte-se!

- Como você se sente em relação aos seus afazeres, seu tempo em família, sua produtividade, suas necessidades profissionais?

- Se dinheiro não fosse problema: como você administraria seu tempo hoje?

- Como funciona sua atual linha do tempo - a forma como você encaixa sua vida em 24 horas diárias - hoje?

Ao tirar um “Tempo” para organizar e entender o seu “Tempo”, você está investindo na sustentabilidade do seu maior ativo: você.

PRECISA DE AJUDA PARA COMEÇAR?

ESTABELEÇA UMA LINHA DO TEMPO QUE FAÇA SENTIDO PARA VOCÊ.

O passo, mais básico e prático, que todos nós precisamos dar é definir uma linha do tempo coerente à nossa realidade. Chamo “linha do tempo” uma programação semanal, na qual defino previamente como administrarei meu tempo naquela semana. Nela considero: quanto tempo preciso para o quê, o que será prioridade, o que é necessidade, como vou encaixar compromissos e até como vou relaxar e cuidar da minha mente. Dessa forma, já prevejo como posso superar obstáculos referentes as minhas dificuldades pessoais e profissionais. Ou, me preparo mentalmente com mais apuro para o quê, naquele momento, venha a ser algo mais desafiador e imutável.

Coloco tudo no papel, dia a dia, de segunda a domingo. E, provavelmente, se eu mostrar a minha linha do tempo para você ela pode até não fazer sentido ou ser caótica - afinal, minha cabeça funciona num ritmo de produtividade muito fora do padrão - mas ela é minha, e ou eu encontro a forma de tornar a minha linha do tempo saudável ou pagarei as consequências a longo prazo.

Como é a sua? O que funciona para você?

Aprenda a se autogerir se autoconhecendo, aprendendo mais sobre você e suas necessidades emocionais, pessoais, profissionais. Esta é uma escolha preventiva para sua saúde mental, física e emocional. Você ganhará mais tempo e mais qualidade de vida!

SENDO BEM SINCERA

Eu ainda luto para colocar meu tempo em ordem, e ligo o alerta quando percebo que estou repetindo o tal do “sem tempo”. Geralmente, quando isso acontece, é porque relaxei e abri caminho para algum rolo compressor externo. No meu caso, quando as circunstâncias não podem ser mudadas, procuro me tornar ainda mais gentil comigo pois sei que a minha tendência natural é me cobrar muito, então, ainda é difícil.

No meu livro, “O Que Há em Você’, eu conto um pouco de como primeiro precisei perder parte da minha capacidade cognitiva para entender que tudo isso poderia ter sido prevenido, se eu tivesse prestado um pouco mais de atenção aos sinais de alerta que meu corpo e minha mente emitiam e eu ignorava.

Minha linha do tempo nasceu da busca por um caminho que me permitisse não depender de medicações contra depressão, já que até o médico que discordava desse diagnóstico me receitava antidepressivos. Quando entendi que estava lidando com novos limites mentais e físicos, busquei compreendê-los melhor, avaliei minhas perdas, redefini prioridades e remodelei o que precisava de mudança.

Tudo começa na decisão de mudar; e, no meu caso, impulsionada pelo meu propósito de estar aqui e agora com você. É um exercício. No começo é mais difícil. A gente erra e acerta até pegar o “jeito” e ir entendendo mais e mais sobre o que funciona pra a nossa realidade.

MEU MODELO PESSOAL

Abaixo, compartilho a minha primeira versão de linha do tempo. Ela é muito simples, mas, pra mim, foi e até hoje é impulsionadora. De uma lado está a lista daquilo que precisava caber dentro do meu tempo, mas sem amarras, porque estava recomeçando. Assim, meu primeiro objetivo era cumpri a meta geral de atividades diárias fundamentais. Estabeleci uma pontuação geral e a média que queria alcançar.

A primeira vez que fiz isso lembro de tirar 0,5! Depois 2, 3, até chegar a média de 7, com picos de 8, 9 e até 10! À medida que ia conseguindo alcançar meus objetivos gerais nessa divisão de tempo, pude ir inserindo sub atividades dentro de cada esfera, aprimorando entregas para mim mesma e assim, ir me capacitando a treinar minha gestão de tempo como aliada da minha autogestão.

Esse resultado é possível porque ao criar minha ferramenta de autogestão e exercitar essa simples tabela, passei a praticar diariamente o que muitos estudos apontam como princípios fundamentais para o desenvolvimento da autogestão. Os quais são:

• Reconhecer seus desafios - sejam eles pessoais, emocionais, profissionais.

• Desenvolver Metas - Específicas, mensuráveis, atingíveis, relevantes e temporizáveis.

• Criar e respeitar rotinas - que ajudam a exercitar de forma ativa foco e disciplina.

• Priorizar saúde e bem-estar - principalmente quando temos dificuldade de entender essa necessidade.

Tive altos e baixos, aprimorei muitas coisas e aprendi lidar com os tempos mais difíceis apenas não desistindo, porque muitas vezes não desistir também é vencer. Me tornei grata pelas pequenas conquistas, sigo aprendendo e evoluindo todos os dias e essa é a minha receita. Hoje, não preciso de nenhum tipo de medicação, aprendi a aprender mais sobre mim e supero obstáculos que nunca imaginei serem possíveis.

Caso você escolha testar a tabela acima, lembre-se:

É preciso que você a modele de acordo com às suas necessidades, estabelecendo seus objetivos diários e pontuações de acordo com suas prioridades. Seja coerente. Dentro de cada um dos tópicos fixos escolhidos, estabeleça metas diárias reais, administráveis e possíveis. Seja honesto ao pontuar seu esforço e gentil consigo mesmo quando os dias forem mais difíceis.

Persevere.

Cada conquista te levará ao próximo passo.

Por fim, se você tem filhos, marido ou esposa ou está em um relacionamento, lembre-se: separe tempo para sua família. Estar em contato com quem você ama e ter tempo de qualidade com essas pessoas é fundamental para sua qualidade de vida. Invista nisso.

E a procrastinação nisso tudo?? Como não? Sendo ela um dos desafios mais universais do nosso tempo? É claro que vou falar sobre ela! Mas, sobre ela eu falo na próxima semana!

E ainda dentro desse tema, depois vamos falar sobre raízes cognitivas, para que a gente possa compreender melhor a tal cegueira temporal - porque algumas pessoas não dimensionam bem tempo e objetivos. Outro assunto importante nesse desdobrar é a disfunção da função executiva - um conceito mais abrangente que engloba habilidades cruciais como planejamento, foco, inibição e memória de trabalho.

Por hoje, eu fico por aqui.

Caso você esteja enfrentando dificuldades relacionadas ao tema de hoje ou queira tirar dúvidas a esse respeito, clique no botão abaixo e entre em contato.

Nosso propósito como Clube Orekare é promover desenvolvimento e saúde emocional para você e sua família. Portanto, se você quiser mais informações e conteúdos sobre temas que ainda não abordamos aqui, mas que são relevantes para o seu dia a dia em família, comenta abaixo quais são eles e vamos falar a respeito.

E, se você conhece alguém que precisa ter acesso a essas informações, compartilhe esse artigo.

Nos vemos na próxima semana,

Até lá!