ECONOMIA DA ATENÇÃO
Com tanta informação disponível, empresas, plataformas e criadores de conteúdo competem ferozmente pelo seu tempo e o da sua família. A atenção humana é um recurso valioso. Como lidar com isso?
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No artigo de hoje quero te convidar a uma reflexão muito simples, porém poderosa: quanto vale a sua atenção?
A economia da atenção é um tema cada vez mais relevante — especialmente no mundo digital em que vivemos. Em termos simples, ela se baseia na ideia de que a atenção humana é um recurso escasso, portanto, valioso. Em termos práticos, cada vez que você rola sua tela em uma rede social, clica, curte ou compartilha algo, você está utilizando a moeda mais valiosa que tem: o seu tempo, ou seja, a sua atenção.
E porque esse tema é tão importante? É preciso lembrar:
Algoritmos foram desenvolvidos por mentes super competentes que entenderam: mapear o comportamento humano, antecipar como reagimos e interagimos, reconfigura valores, prioridades e formas de convivência em sociedade.
E isso não vem de hoje, é assunto antigo, mas até a virada dos anos 2000 não havia ainda nenhuma ferramenta tão pontente quanto as redes sociais. Todos nós sabemos disso, todos nós a utilizamos, somos nós quem abrimos a porta para que crianças e adolescentes possam usá-las, e mesmo estando hoje um pouco mais conscientes do seu dano, ainda achamos que afeta mais aos outros do que a nós.
Isso acontece em escala diversa, especialmente por que essas mesmas redes também são parte da nossa plataforma de trabalho, de comunicação, marca e, portanto, geradoras de rentabilidade. Além disso, é tolo dizer que não há coisas boas a serem consumidas por lá também. Sim, elas existem e tem valor.
A questão é:
COMO O TEMPO VIROU VALOR?
No âmbito familiar, muito antes das redes sociais transformarem nossa atenção em moeda de troca, já vivíamos um processo silencioso, mas poderoso, de desintegração do tempo comum, especialmente do tempo em família.
No passado, à medida que as cidades cresciam, que o custo de vida aumentava, e as pessoas precisavam trabalhar mais para garantir seu sustento, naturalmente, elas foram sendo mais retiradas da sua base familiar, mudando a forma de usar se tempo. Se à época da Revolução Industrial, da 1ª e 2ª guerra, os homens saíram para as industrias, depois para a batalha e as mulheres assumiram as fábricas, quem passou a cuidar das crianças? Antes, educadas por toda a família, a partir dessa ausência forçada e com as consequências pós guerras, o tempo conjunto foi se tornando cada vez mais escasso.
De lá para cá trilhamos caminhos que, gradualmente, foram mitigando nosso tempo. Especialmente o familiar, bombardeados pela cobrança de mais de eficiência, produtividade, competitividade, sem esquecer que para boa parte de nós, pesam também os desejos e ambições que nos levaram a trabalhar mais, para ter mais e, até, para oferecer mais a quem amamos. E foi assim que o tempo foi perdendo seu espaço de convivência, de construção conjunta, e para alguns até de propriedade, para virar um recurso gradualmente caro e escasso. E isso consome tanto do nosso tempo, que nem percebemos como a nossa atenção é a parte mais valiosa dele.
Mas, o que a internet, e, em especial as redes sociais fizeram, foi nos dar uma maior perda da noção do tempo, e, à medida que entregamos mais dele a ela isso nos levou a um estranho desejo de desconectar do real para focar no digital.
ONDE ESTÁ A SUA ATENÇÃO, ESTÁ O SEU TEMPO
Ampliando o recorte online, em meio as discussões sobre redes sociais e seu impacto direto para crianças e adolescentes, escrevo este artigo para que nós, adultos, sejam pais , mães, responsáveis, jovens adultos… para que possamos assumir uma nova perspectiva de responsabilidade sobre atenção e tempo.
A vida digital impacta muito mais a autogestão de tempo do um adulto do que a maioria de nós imagina. Veja:
Um estudo de 2023 apontou que os brasileiros passaram, em média, 5 horas por dia em aplicativos móveis. Esse número coloca o Brasil entre os países com maior tempo de uso diário online.
Outra pesquisa revelou que brasileiros passam em média 56% do dia em frente às telas de smartphones e computadores.
Estimativas globais também mostram médias elevadas, com usuários gastando várias horas por dia em redes sociais e outros aplicativos.
Vários estudos independentes ao longo dos anos chegaram a conclusões semelhantes: a maioria de nós desbloqueia a tela dos nossos celulares entre 80 a 150 vezes por dia.
Assim, rolando feeds ou interagindo com conteúdo em plataformas como YouTube, TikTok, Instagram, X e Facebook, por exemplo, tendemos a esquecer que estes são espaços construídos para capturar e reter nossa atenção o máximo possível. Repito: há um gigantesco investimento de inovação, tecnologia, neurociência, análise comportamental e muito mais para garantir que a sua atenção seja conquistada.
Tudo isso porque ela é monetizada!
E nesse mesmo ambiente, como o tempo de atenção é curto e está em ritmo de rolagem, o debate precisa ser raso, emocional e direto. É assim que temas complexos passam a ser reduzidos a slogans, memes ou "lacradas". Todos os dias, repetidas vezes, o algoritmo nos entrega o que gera engajamento rápido — e geralmente isso inclui o que é polêmico, alarmista ou emocionalmente intenso.
Como resultado, temos assistido o comprometimento social da capacidade coletiva de lidar com nuances, de ouvir o outro e de construir soluções conjuntas. E tem mais, a lógica algorítmica da economia da atenção prioriza o que é viral e global, nos entregando de bandeja uma espécie de monocultura do conteúdo.
SE ELES GANHAM SUA ATENÇÃO, QUEM A PERDE?
Quem esta ao seu lado.
Quando uma mãe nem percebe que está mais atenta ao que acontece online do que dentro da sua casa, como poderá dialogar com seus filhos sobre os danos e riscos relacionados ao universo digital?
Quando um pai não percebe que atenção é a moeda mais valiosa dentro da sua relação familiar, como poderá dar ao seus filhos a confiança necessária sobre quão valiosos eles realmente são?
Infelizmente, o tempo gasto individualmente no mundo digital é um dos fatores que mais contribuem para a diminuição do tempo compartilhado em família.
A vida digital afeta mais do que nossa gestão de tempo, ela intervém fortemente na nossa autogestão como um todo. Impactando nossas emoções, nosso humor, aumentando a ansiedade, o estresse e diminuindo a capacidade de concentração, o que afeta o bem-estar coletivo.
AÇÃO IMEDIATA
Há uma ação simples e eficiente que vai te ajudar a entender, monitorar e tornar mais saudável sua relação com seu smartphone e suas redes sociais. Se o seu celular tem algum tipo de monitoramento de uso de aplicativos, comece a observar quanto do seu tempo você gasta navegando neles. Ao fazer isso:
- Avalie o resultado.
- Estabeleça metas.
- Controle o seu uso, torne-o eficiente.
- Use o algoritmo a seu favor.
VIRE O JOGO
A receita é simples, mas o hábito por vezes é tão automático que demandará esforço mudá-lo. Se o celular é o despertador, facilmente você acorda e já está com ele nas mãos, confere as notificações e já recebe mais outras tantas informações. Quanto mais multitarefas temos nos tornado, mas difícil concentrar, mais ansiedade disponível, mais correria para administrar, ou seja: tempo!
Para virar esse jogo, se auto avalie, considere como vai sua gestão de tempo familiar e profissional, identifique suas vulnerabilidades, entenda suas necessidades de uso, defina as mudanças que se façam necessárias, redirecione seu foco e treine seu cérebro para usufruir dos reais benefícios que a internet e a vida online podem te dar.
Afinal, para todas as áreas das nossa vidas o equilíbrio é sempre uma excelente resposta!
TEMPO, NÃO RETORNA
Sua atenção é sua moeda mais preciosa, seu maior investimento para a construção de um legado familiar de afeto e memórias. Por outro lado, a falta dela é capaz de minar qualquer tipo de relacionamento. Porque atenção é o "combustível" tanto para relacionamentos conjugais mais saudáveis quanto para o melhor desenvolvimento emocional de crianças e adolescentes.
Portanto, valorize seu tempo em família e os momentos simples compartilhados no dia a dia; pois neles geramos memórias que nunca se apagam, e isso é a verdadeira riqueza da vida. Invista nos seus relacionamentos familiares, pois até estudos científicos comprovam: eles são o alicerce da felicidade.
POR FIM
Hoje, falamos sobre como a economia da atenção precisa ser compreendida a fundo. Na próxima semana, vamos ampliar esse tema falando sobre autogestão e como ela representa um desafio significativo para muitos de nós em um nível mais profundo e multifacetado.
Como Clube Orekare ressaltamos: se não investirmos na qualidade dos relacionamentos familiares, não conseguiremos resgatar as novas gerações dos danos emocionais e identitários nos quais ela se encontra. É em casa que precisamos aprender a nomear nossas emoções, a nos sentirmos validados e valiosos. E isso também inclui a nós mesmos.
Esperamos ter contribuído para ampliar sua visão sobre esse tema tão urgente. Que essas informações sirvam não apenas para o seu esclarecimento, mas como um convite à ação.
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Nos vemos na próxima semana,
Até lá!